sábado, 6 de dezembro de 2008

A ÁRVORE DA VIDA



“O Senhor Deus disse: ‘eis que o Homem, quanto ao conhecimento do bem e do mal, se tornou como um de nós”. Agora é preciso que ele não estenda a mão para se apoderar também do fruto da Arvora da Vida e, comendo dele, viva para sempre. Então, o Senhor Deus expulsou Adão do Jardim do Éden (…).

Depois de ter expulsado o Homem colocou a oriente do jardim uns Querubins com uma espada flamejante, a fim de guardarem o caminho da Árvore da Vida (Gn 3, 22-24).

De acordo com a linguagem simbólica do livro do Gênesis, havia no centro do Paraíso duas árvores importantes: a árvore do conhecimento do bem e do mal e a Árvore da Vida. A seiva da árvore do conhecimento do bem e do mal é o egoísmo que gera os frutos mortais da arbitrariedade e do caprichoso.

Os que comem o fruto desta árvore descobrem que estão nus, pois entraram no caminho do malogro e do fracasso. Com efeito, as pessoas que se alimentam do caprichoso e da arbitrariedade, não chegam a atingir a maturidade que dá frutos de consciência amadurecida, liberdade comprometida e amor gerador de fraternidade e comunhão.

Por seu lado, a Árvore da Vida faz germinar a Vida Eterna no coração dos que comem os seus frutos. O fruto da Árvore da Vida é a fidelidade à Aliança de Deus. No coração dos que comem este fruto começa a circular a seiva fecunda da Árvore da Vida, isto é, o Espírito Santo.

As pessoas que comem o fruto da Árvore da Vida descobrem que estão revestidos com a veste da Salvação: “E vi descer do Céu, a Cidade Santa, a Nova Jerusalém, preparada, qual noiva vestida e adornada para o seu esposo” (Ap 21, 2).

Através de um pronunciamento belíssimo, o profeta Isaías vê o Messias como o rebento salvador da Árvore da Aliança, cuja vida resulta do encontro harmonioso do Homem, tronco de Jessé, o Pai de David, e Deus, a raiz deste tronco, do qual brota o Espírito Santo que anima a Árvore toda: “Brotará um rebento do tronco de Jessé, e um renovo brotará das suas raízes. Sobre Ele repousará o Espírito do Senhor: Espírito de Sabedoria e entendimento, Espírito de Conselho e Fortaleza. Espírito de Ciência e Temor de Deus” (Is 11, 1-2).

O Livro do Gênesis diz que Deus criou o Homem à sua imagem e semelhança (Gn 1,26-27). Por isso o ser humano tem um coração faminto de vida e amor. Isto significa que a pessoa humana está talhada para comer o fruto da Árvore da Vida. Mas como só pedia ser livre optando, tinha de haver uma alternativa no Paraíso. Por isso ao lado da Árvore da Vida, Deus colocou a Árvore do conhecimento do bem e do mal.

Qualquer das árvores estava ao perfeito alcance do homem. Esta simbologia do livro do Gênesis exprime de modo magnífico o que significa o livre arbítrio, ou seja a capacidade psíquica de optar pelo bem ou pelo mal. O Senhor confiava no coração do Homem criado à imagem e semelhança da Divindade.

Mas o Homem cedeu à tentação e comeu o fruto errado. A tentação é sempre uma insinuação mental convidando o Homem a agir em sentido oposto à proposta de Deus. E eis que o Homem optou no sentido errado. Como conseqüência deste pecado, o Paraíso foi fechado, ficando fora do alcance de Adão. A Humanidade é introduzida por Adão no caminho do Malogro e do fracasso.

Como Deus é Amor infinito, não podia deixar de nos amar infinitamente. Por isso, através do mistério da Encarnação, o beijo divinizante de Deus à Humanidade, orientou de novo o Homem no sentido do projeto de Deus. E a salvação ficou ao nosso alcance.

Na Sexta-feira Santa Jesus Cristo abriu o Paraíso e introduziu nele a Humanidade que o tinha precedido na história. Eis as palavras de Jesus para o Bom Ladrão: “Em verdade te digo: hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 43).

Cristo é o rebento do tronco de Jessé e o renovo que brota das raízes deste tronco, a comunidade amorosa da Santíssima Trindade. De fato, Jesus Cristo não é apenas da raça dos homens. A sua realidade é humano-divina. Isto quer dizer que a raiz mais profunda do seu mistério é a própria comunhão da Trindade Divina (Jo 1, 12-14). Por isso, mediante o mistério da Ascensão, é incorporado na Família Divina, inserindo os eleitos nesta comunhão humano-divina.

Em Jesus ressuscitado, portanto, passamos a fazer parte da Árvore da Vida, tornando-nos ramos ligados à cepa da Videira, Cristo, e às suas raízes que é a comunhão orgânica da Trindade Divina. Jesus abriu as portas do Paraíso à Humanidade e esta foi divinizada.

Deste modo podemos concluir que o relato paradisíaco do livro do Gênesis não foi nunca realidade existente num princípio mítico, mas projeto sonhado por Deus para a plenitude dos tempos: “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho nascido de uma mulher (…), a fim de recebermos a adoção de filhos” (Gn 4, 4-6).

Jesus Cristo é o Novo Adão, a cabeça da Humanidade reconciliada com Deus (2 Cor 5, 17-19). É a Árvore da Vida que nos dá o fruto da Vida Eterna: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a Vida Eterna e eu hei-de ressuscitá-lo no último dia, pois a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue verdadeira bebida”.

Quem come a minha carne a bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive e Eu vivo pelo Pai, também o que me come viverá por mim” (Jo 6, 54-57).

Mas São João tem o cuidado de acentuar que este mistério da comunhão orgânica com Cristo ressuscitado nada tem de antropofagia. Por isso acrescenta: “E se virdes o Filho do Homem subir para onde estava antes? O Espírito é que dá vida, a carne não presta para nada; as palavras que vos disse são Espírito e Vida” (Jo 6, 62-63). A carne e o sangue de Cristo são a seiva da Árvore da Vida Eterna, isto é, o Espírito Santo.

Com Jesus, em uma linguagem poética a Humanidade entra no Paraíso e é amorosamente assumida na família de Deus sendo, por conseqüência, divinizada. O Paraíso, sonhado pelo livro do Gênesis, torna-se finalmente realidade. Os que são animados pela seiva da Árvore da Vida, o Espírito Santo, passam a participar da Vida Eterna, sendo organicamente incorporados na Família de Deus, como diz São Paulo: “Todos os que são movidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus”. Vós não recebestes um espírito de escravidão para andardes no temor. Pelo contrário, recebestes um Espírito de adoção graças ao qual clamamos “Abba”, isto é Papai.

E se sois filhos sois também herdeiros. Herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com Jesus Cristo, se formos fiéis como ele foi, sofrendo pelo Evangelho como Ele sofreu” (Rm 8, 14-17).

No Reino de Deus, os eleitos são todos alimentados pelo fruto da Árvore da Vida: “Felizes os que lavam as suas vestes, para terem direito à Árvore da Vida e poderem entrar nas portas da cidade” (Ap 22, 14).