sábado, 15 de novembro de 2008

CRISTO E SUA CRUZ


Cristo e Sua Cruz

“Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem, ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana; e sim, no poder de Deus.” (I Coríntios 2:1-5)

Qual a mensagem que a igreja de Cristo tem pregado nos dias de hoje?

O que Paulo nos diz sobre suas próprias dificuldades em divulgar a Palavra? Quais as tentações que enfrentou e como as enfrentou? O que ele julgava central e inegociável na mensagem do evangelho? É sobre todos estes pontos que iremos discutir, tentando traçar um paralelo entre a experiência de Paulo e o que temos vivido atualmente.

Conhecer o evangelho é essencial para que possamos VIVÊ-LO e PREGÁ-LO.

O texto de I Coríntios é uma declaração sobre a origem, o conteúdo e o poder do evangelho, que quando compreendidos nos auxiliam a não distorcer a mensagem do evangelho, com a intenção de propagá-la.

1) A mensagem:

O evangelho é a mensagem proveniente de Deus. Quando Paulo diz que pregou o TESTEMUNHO DE DEUS, em contrapartida à sabedoria humana, ele deixa claro que a origem de sua mensagem é o próprio Deus, e não o homem.

Há nesta palavra SABEDORIA, mas não uma sabedoria alicerçada em qualquer conhecimento humano, mas a proveniente do próprio Deus, e que foi por Ele revelada, e que de nenhuma outra maneira poderia ser descoberta. Sendo assim, esta mensagem não pode ser modificada pela sabedoria humana, o que não significa que não possa ser compreendida e transmitida sabiamente, uma vez que ela contém a sabedoria divina!

A questão então é: como transmitir o testemunho de Deus alicerçado em sua própria sabedoria, e não na nossa? Isto é possível? Como agiu Paulo?

Vejamos que em passagens como, Atos 9:22 e 17:3, ele não abre mão de argumentos fortes e convincentes, e que apelam para o raciocínio dos ouvintes.

Em Atos 18:4 chama a atenção o uso da palavra persuasão, para descrever ao resultado da exposição da palavra de Deus por Paulo. Não necessitamos criar argumentos para que as pessoas aceitem a palavra de Deus, ela já possui os argumentos mais sábios e poderosos, e que apelam às mentes humanas, da maneira predeterminada por Deus.

Porém não podemos utilizar estes argumentos, se não os conhecermos, os compreendermos e os aceitarmos: aí sim é que corremos o risco de utilizar nossa própria sabedoria, e tentar criar argumentos que preencham as falhas em nosso discurso. Quanto mais eu conhecer e compreender, mais rica e compreensível será a minha exposição da mensagem do evangelho. Ela será cada vez menos a NOSSA MENSAGEM, para ser a de NOSSO SENHOR.

Sendo assim, tornar a mensagem compreensível é também nossa missão. O erro não é torná-la compreensível (da maneira exposta acima), mas sim tentar torná-la AGRADÁVEL mutilando-a.

2) A ênfase:

Paulo foi claro: ele escolheu, resolveu, decidiu (conforme várias traduções), centralizar a mensagem do evangelho em Jesus Cristo e (especialmente), neste crucificado.

Se anunciar desta maneira o evangelho foi uma firme decisão de Paulo, é porque era real a tentação de deixar de pregar a Cristo e sua cruz, ou mesmo deixar definitivamente de pregar a Cristo. Ainda hoje podemos nos encontrar em um dilema semelhante ao de Paulo.

Há situações atuais que podem nos tentar, a facilitar a propagação da mensagem, a deturpá-la a ponto de abandonarmos a centralidade de Jesus e do seu sacrifício redentor.

Vejamos quais poderiam ser as situações:

A) Objeção intelectual (a loucura da cruz):

A compreensão do sacrifício de Jesus como obra de um Deus amoroso, para redenção da sua criação não é algo que compreendamos instintivamente pela nossa razão natural, principalmente se estamos afastados de qualquer conhecimento sobre Deus (e nos alicerçamos apenas naquilo que achamos lógico).

Em relação à cultura grega da época de Paulo (e também a nossa atualmente), a redenção pela cruz ia de encontro a toda especulação humana sobre quem poderia ser Deus. Era contrária a todos os modelos filosóficos que tentavam compreender a existência com base no conhecimento humano, e por isso significava LOUCURA. A tentação então poderia ser fugir deste confronto: tentar pregar algo mais agradável, que se aproximasse mais do que era aceito como real e verdadeiro. Cair neste erro seria não confiar na sabedoria do próprio Deus (que preferiu não ser conhecido instintivamente pelo próprio raciocínio humano, mas a realizar sua obra confrontando-nos e expondo a nossa loucura - 1Coríntios 1:21), esquecendo-se de que a loucura de Deus é mais sábia que os homens (I Coríntios 1:25).

B) Objeção religiosa (a exclusividade do evangelho):

Em uma cultura sincrética, como a de uma cidade portuária grega da época de Paulo, pregar um único Deus que exclua todos os outros, e que possua um único caminho de acesso, gera confronto imediato. A tentação é de fugir deste confronto, porém a centralidade em Jesus, e este crucificado, já num primeiro momento deixa patente a sua exclusividade. Não há como aceitá-lo sem abandonar todos os vínculos religiosos prévios.

C) Objeção pessoal (a humilhação do orgulho humano):

Todas as religiões (a exceção do cristianismo), tanto na época de Paulo, quanto na nossa, tem em comum a idéia de que somos capazes, se não de conquistar a nossa salvação, pelo menos contribuir substancialmente com ela. A tentação é de não tocar na auto-estima do próximo, porém um evangelho centralizado em Cristo e sua cruz brada que nada podemos fazer para conquistar nossa salvação: encontramos-nos humilhados diante da cruz.

D) Objeção moral (o chamado ao arrependimento):

De uma sociedade abertamente imoral, não se espera que acolha o evangelho facilmente, com seus apelos ao arrependimento e sua insistência na santificação após a justificação. O mundo moderno não é em nada mais receptivo que o mundo antigo no que concerne ao chamado do evangelho ao domínio próprio. Ele gosta de dizer que esse negócio de absolutos morais já não existe mais, que moralidade sexual é questão de costumes sexuais, que abstinência é uma coisa ruim e permissividade uma coisa boa, e que o cristianismo, com suas proibições é inimigo da liberdade.

E) Objeção política (o senhorio de Jesus):

Havia, no império romano, boa dose de fervor político, sendo exigido de seus súditos a lealdade absoluta. Ainda hoje, regimes totalitários (e mesmo grupos que não estão no poder), pregam lealdade absoluta ao estado, ao partido, ou à uma causa. Ir contra significa não apenas impopularidade, mas risco de vida (lembremos da China). Os cristãos submetem-se conscientemente ao Estado, desde que a autoridade que lhe é dada por Deus seja usada para promover o bem e punir o mal; nunca porém iremos adorar o Estado, um partido, ou uma causa. É a Cristo que adoramos, a quem foi dada toda autoridade no céu e na Terra, pois ele morreu e ressuscitou para ser Senhor de tudo.

Paulo sabia que sua mensagem seria considerada intelectualmente loucura, religiosamente exclusiva, pessoalmente humilhante, moralmente exigente e politicamente subversiva: não é de se admirar que se sentisse “fraco e tremendo de medo”, e admitisse que precisava tomar uma decisão: abrir mão da sabedoria do mundo, e toda alternativa que ela oferece para o evangelho, e proclamar a Jesus Cristo e especialmente sua cruz.

F) O poder do Espírito Santo:

Paulo tinha uma mensagem que não era sua, mas sim de seu Senhor, e portanto não poderia ser modificada. Sabia ainda que tal mensagem confrontava completamente o mundo de sua época: a compreensão intelectual do mundo, os valores pessoais e da sociedade, e até mesmo os limites das autoridades políticas.

Diante de tudo isso, ele não esconde seu temor, porém ele persiste resolutamente: onde está depositada sua confiança?

Não em “linguagem persuasiva de sabedoria” ou em “linguagem de sabedoria humana”. Isto é, ele não se baseava, nem na sabedoria nem na eloqüência do mundo. Ao invés da sabedoria do mundo, ele pregava Cristo e sua Cruz, e em vez do discurso convincente do mundo, ele confiava na poderosa demonstração que o Espírito Santo dá à palavra.

Afinal, somente o Espírito Santo pode convencer as pessoas de seus pecados e necessidades, abrir-lhes os olhos para enxergarem a verdade do Cristo crucificado, dobrar a sua orgulhosa vontade e submetê-las a Ele, libertá-las a fim de crerem nele e dar-lhes novo nascimento. Esta é a poderosa demonstração que o Espírito Santo dá a palavras ditas em fraqueza humana.

O evangelho vem de Deus, concentra-se em Cristo, e este crucificado, e é autenticado pelo Espírito Santo. É este o evangelho trinitário do Novo Testamento.