sábado, 15 de novembro de 2008

O DEUS DAS PEQUENAS COISAS



Robert M’Cheyne, grande avivalista escocês, costumava dizer que “Deus reina tão visivelmente na comunidade das formigas quanto entre homens e serafins”. O evangelista tinha a noção exata do poder de Deus, que é soberano sobre os grandes e Senhor dos pequenos. Contudo, mais até do que Senhor dos pequenos, Deus é Senhor das pequenas coisas. Talvez essa verdade não tenha muito acolhimento nesses dias “mega”. Hoje tudo é grande e tem que ser grande. Até as igrejas têm entrado nessa dança grandiosa, medindo sua importância pelo número de membros, disponibilidade orçamentária, patrimônio, etc…. A regra é quantidade e tamanho. Por coincidência, no exato momento em que estou escrevendo esse texto, liga-me um pastor com uma “grande” notícia. “Vamos construir o maior templo da cidade”, afirmou exultante.
Não tenho nenhuma aversão à grandeza, muito pelo contrário, pois se o tivesse não seria cristão. Deus é grande, Seu reino, enorme. Mas o que me tem preocupado é a nossa falta de atenção com as coisas pequenas. Outro dia, peguei-me cometendo o mesmo erro que condeno nos outros. Entrei no elevador do meu prédio e tinha somente uma criança. Exatamente, “somente” uma criança. Fui direto para o espelho ver se a minha gravata estava bem colocada, depois olhei para baixo e vi um menino de seus 8 anos de idade, que simplesmente me passou despercebido. Somente quando saí do elevador foi que dei conta que nem sequer o cumprimentei. Certamente, se em vez daquele garoto, eu tivesse me deparado com seus pais, com certeza teria sido mais simpático e gentil. Naquele momento, entendi que eu também tenho dificuldade com as coisas pequenas Contudo, há uma Pessoa que tem verdadeira veneração por elas. Gosta tanto que nos incentiva a tornar-nos pequenos. “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus”.
Precisamos aprender a ser pequenos e gostar de coisas pequenas. Jesus nos exorta sobre isso por meio da parábola de um pastor que sentiu a falta de uma simples ovelha do seu rebanho, e, deixando as outras noventa e nove, foi atrás da furtiva até encontrá-la. Podemos ver sua preocupação com aquela única ovelhinha rebelde. Certamente, ele enfrentou perigos e ficou sozinho no escuro a procurá-la. Será que hoje vamos atrás da ovelha perdida, abrindo mão do grande auditório onde estão as outras noventa e nove assentadas e atentas? Será que estamos preparados para o escuro? Ou na verdade estamos ávidos por holofotes?
Devemos deixar as luzes do mundo e nos aproximar das de Deus. Quando Jesus ensinava os discípulos a orar, Ele orientou a que entrassem no quarto “escuro” e orassem em “secreto”, a fim de que suas petições fossem ouvidas por Deus. Esse é o segredo: ficar no escuro e em secreto. Mas nesta época apoteótica o que todos querem é estar sob a luz de refletores e com a cara para o público, fingindo fazer grandes coisas. Não podemos nos esquecer também que Jesus incentivou seus discípulos a fazerem pequenos serviços, como, por exemplo, dar um copo de água a uma pessoa. Isso mesmo, tão-somente um copo d’água. Ele afirmou que esse ato singelo será recompensado com um grande galardão. Mas nossa mania de grandeza somente nos deixa pensar em “megaprojetos” e serviços. Ninguém quer dar um copo de água ao sedento, ninguém quer levar um idoso para passear, ninguém quer fazer uma ligação para o solitário, ninguém deseja passar um dia com um órfão, ninguém quer compartilhar o Evangelho com uma única pessoa, mas se for para subir no “palco” da igreja para dar show, todos estão a postos.
As “megaproduções” eclesiásticas me deixam preocupado, pois ninguém pode fazer nada grande se não souber fazer pequeno. Disse Jesus: “Aquele que é fiel no pouco é fiel no muito”. Contudo, hoje em dia, costumamos ler esta verdade pelo avesso. Em verdade, não podemos cuidar de dez se não conseguimos cuidar de um; não podemos servir a mil se não conseguimos servir a um; não podemos pregar para uma multidão se não o fazemos para uma só pessoa; não podemos fazer muito se não conseguirmos fazer pouco.